Laboratórios recriam epiderme humana - Pele artificial salva cobaias
http://www.correiomanha.pt/noticia.asp?id=250124&p=22&idselect=219&idCanal=219Tiago Sousa Dias
Testes em laboratório procuram soluçõesExiste uma fábrica em Lyon, França, que comercializa um produto que dificilmente se encontra no supermercado. A companhia, do grupo L'Oréal, fabrica pequenos pedaços de pele artificial para testar cosméticos. Os dias de testes de shampoos, maquilagem ou perfumes em animais de laboratório têm então os dias contados. A aliar à pressão de grupos de defesa dos animais há uma directiva comunitária que prevê a proibição de cobaias em testes de produtos cosméticos e químicos, desde detergentes a pinturas, a partir de 2009 ou 2013, dependendo do tipo de teste.
Estes laboratórios privados foram dos primeiros a produzir pele, no início dos anos 80. De acordo com a L'Oréal, a exploração de alternativas ao uso de animais em testes sempre foi uma bandeira do grupo, que não usa produtos finais em cobaias desde 1989.
A tecnologia desenvolveu-se com a potencialidade de se usar a pele artificial em queimaduras graves, mas está a ser desenvolvida pela indústria da cosmética que precisa de alternativas às cobaias, dadas as proibições que se avizinham.
A fábrica da L'Oréal já produz por ano mais de cem mil pequenas porções de epiderme humana reconstruída, chamada Episkin. O grupo já criou uma nova fábrica para produzir pele utilizável por pessoas que tenham queimaduras extensas no corpo e essa encomenda, curiosamente, é enviada pelo correio.
O próximo objetivo é atingir uma produção em massa desta pele artificial de forma a substituir as cobaias na maior parte dos laboratórios de cosmética, o que só será possível no final da próxima década.
COMO É FEITA A EOISKIN?
Após algumas semanas de cultivo obtêm-se fragmentos com cerca de um centímetro quadrado da pele artificial denominada Episkin. São pequenos círculos elásticos e compactos prontos para testar produtos cosméticos, dado que têm a mesmo grau de irritabilidade do que a pele verdadeira. É assim evitado o uso de animais de laboratório nos testes.
RESTRIÇÕES DA UE
Indústrias farmacêuticas, cosméticas, fabricantes de detergentes e de pinturas: todos já manifestaram interesse na pele artificial. A União Europeia proíbe desde 2004 testes de produtos cosméticos já finalizados em animais e pretende até 2013 erradicar a experimentação animal.
PORMENORES
TECNOLOGIA
A engenharia de tecidos trata-se de uma tecnologia desenhada para desenvolver substitutos biológicos que possam ser utilizados para recuperar, manter ou melhorar a pele.
COBAIAS
Estimativas apontam para que sejam usados entre 50 a 100 milhões de animais, desde ratos a macacos, por ano em testes laboratoriais realizados um pouco por todo o Mundo.
INDÚSTRIA
As empresas que compõem a indústria cosmética europeia são responsáveis pela produção de cinco milhões de produtos por ano.
Pedro H. Gonçalves